Nos últimos dias a internet teve uma verdadeira “reviravolta”, isso teve início após o youtuber Felipe Bressanim — conhecido como Felca — fazer um vídeo sobre “Adultização” e denunciar o influenciador Hytalo Santos de exploração sexual de menores de idade em conteúdos na internet.
Com mais de 30 milhões de visualizações apenas no YouTube, O tema adultização ganhou força nacional e se tornou um verdadeiro centro de discussão, tanto nas redes sociais quanto no Congresso Nacional.
O que é a adultização infantil
A adultização infantil é o fenômeno em que crianças e pré-adolescentes passam a adotar comportamentos, estéticas e linguagens tipicamente associadas ao mundo adulto, muitas vezes sem compreender o contexto e as implicações dessas atitudes.
Impactos da Adultização nas redes sociais
No “mundo offline”, isso já era observado em padrões de consumo e influência de mídia tradicional. Porém, nas redes sociais, o processo é acelerado e potencializado — e muitas vezes até normalizado.
Quando uma criança é superexposta em redes sociais, ela ainda não tem mecanismos e o discernimento necessário para se proteger dessa exposição prejudicial.
São jovens que, em muitos dos casos, são expostos por seus pais e responsáveis em contextos inadequados para monetização do conteúdo.
Como as Big Techs entregam “Adultização”
Conforme denunciado (e comprovado) pelo Felca, plataformas como TikTok, Instagram e YouTube são projetadas para maximizar o tempo de tela e o engajamento.
As redes sociais e plataformas digitais priorizam a atenção do usuário, pois este é um recurso valioso que impulsiona o engajamento e o consumo de conteúdo, além de maximizar a receita através dos anúncios.
Isso significa que o algoritmo “premia” conteúdos que geram mais interação — e, infelizmente, conteúdos com apelo estético adulto em crianças costumam viralizar rapidamente.
A consequência? O sistema de algoritmo incentiva que esse tipo de material seja replicado, normalizando padrões que normalmente são precoces para crianças e adolescentes.
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O papel do algoritmo
Felca destaca em seu vídeo a facilidade com que os algoritmos das redes sociais sugerem vídeos com crianças, para os usuários que demonstram interesse neste tipo de conteúdo.
No vídeo, Felca mostrou como o chamado “algoritmo P”(de Pedófilo) impulsiona conteúdos com apelo sugestivo — e, muitas vezes, inapropriado — ao identificar o tempo de visualização e o engajamento de usuários com essas postagens
O problema não é apenas o conteúdo publicado, mas a forma como ele é distribuído.
O algoritmo não diferencia maturidade emocional, apenas mede o potencial de engajamento.
Dessa forma, uma criança que publica um vídeo com maquiagem carregada, roupas sensuais ou linguagem adulta pode receber milhões de visualizações, sem que a plataforma intervenha, pelo contrário: ela potencializa o alcance.
Impactos psicológicos e sociais da Adultização
Esse tipo de exposição precoce cria um terreno fértil para problemas como baixa autoestima, ansiedade, comparação social nociva e até assédio virtual.
Dessa forma, crianças passam a se enxergar não como indivíduos em desenvolvimento, mas como “produtos” que precisam corresponder a uma estética validada por curtidas e comentários.
Por que o alerta é urgente?
O cenário é alarmante porque não se trata apenas de “conteúdo inadequado”, mas de um modelo de negócio que lucra diretamente com a erosão das fronteiras entre infância e vida adulta.
Sem políticas mais rígidas e participação ativa de pais e educadores, o ciclo continuará — e a adultização infantil se tornará cada vez mais normalizada no ambiente digital.
Repercussão
A denúncia não ficou apenas nas telas. O impacto foi imediato: no Senado, foi formalizado um pedido de CPI para investigar influenciadores e plataformas digitais que facilitam a adultização de menores.
Até o momento, o requerimento já conta com mais de 70 assinaturas.
Da mesma forma, na Câmara dos Deputados foram apresentados 32 projetos de lei, entre os dias 11 e 12 de agosto.
Desse modo, tais projetos visam criminalizar a adultização digital, restringir a monetização de conteúdos com menores e responsabilizar plataformas por práticas abusivas.
Ações legislativas ganham urgência (e forma)
O vídeo de Felca teve tanto alcance que fez com que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciasse a prioridade em pautar o tema durante a semana:
“O vídeo do Felca sobre a adultização das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão”, declarou Motta.
Foi criado um grupo de trabalho (GT) com prazo de 30 dias para elaborar uma proposta eficaz.
Ademais, foi agendada uma Comissão Geral para 20 de agosto, com a participação de especialistas e representantes da sociedade civil.
Além disso, o projeto de lei PL 2.628/22, do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), já aprovado no Senado, recebeu prioridade na tramitação na Câmara.
O Projeto prevê mecanismos como verificação de idade, perfis de crianças vinculados a responsáveis, sistemas de notificação e remoção rápida de conteúdos abusivos — além de multas de até 10% do faturamento das empresas
Tecnologia em xeque: Big Techs sob pressão
Enquanto o debate avançava no Congresso, também houve repercussão no setor de tecnologia: Meta e Google começaram a ser pressionados.
Pesquisadores da UFRJ defenderam filtros mais rigorosos e bloqueios preventivos para termos relacionados à exploração infantil — transformando o debate em urgência técnica também.
Em pronunciamento, a Meta (Dona do Facebook e Instagram) bem como o Youtube (Google) afirmaram já atuar para remover este tipo de conteúdo de suas plataformas, bem como, contém uma “política específica sobre o tema” e “segurança infantil é uma prioridade”.
O TikTok não se pronunciou sobre o tema, contudo, em suas diretrizes diz “contar com um time de segurança que atua na moderação dos conteúdos e que não permite conteúdos que possam colocar jovens em risco”.
Por que agir agora contra a “Adultização” é essencial?
O alerta é urgente. Não se trata apenas de monitorar conteúdos inadequados, mas de repensar um modelo de negócio que, consciente ou não, contribui para encurtar a infância.
Além disso, o mais inquietante é perceber que nada disso é exatamente um acidente. As Big Techs lucram com o tempo de tela, e o algoritmo não tem sensibilidade para diferenciar inocência de exploração.
Dessa forma, o sistema foi desenhado para maximizar atenção — e se a atenção é capturada por comportamentos que adultizam crianças, ele continuará a replicá-los.
Em suma, é por isso que o alerta é tão urgente: sem regulamentação firme e uma mudança no desenho dessas plataformas, a infância pode ser prejudicada em nome de cliques e visualizações.