Olá, caros leitores e amantes da sétima arte! Hoje, vamos abrir o baú do cinema nacional para relembrar um fenômeno de bilheteria que fez o Brasil inteiro rir e se emocionar: “Se Eu Fosse Você”. Lançada em 2006, essa comédia romântica dirigida pelo veterano Daniel Filho se tornou um marco, provando que o público brasileiro estava, sim, ávido por se ver nas telonas em histórias leves e divertidas. Mas será que, quase duas décadas depois, o filme ainda se sustenta? Puxe a poltrona e vamos analisar!
A premissa, admito, não é a mais original do universo cinematográfico. A ideia de duas pessoas que trocam de corpo já era um clichê explorado à exaustão em Hollywood. No entanto, a grande sacada de “Se Eu Fosse Você” foi trazer essa fantasia para o nosso cotidiano, com um tempero inconfundivelmente brasileiro e uma dupla de protagonistas que esbanja carisma e talento.
De um lado, temos Cláudio (Tony Ramos), um publicitário machista e workaholic, que vive para o trabalho e não presta muita atenção nas necessidades da esposa. Do outro, Helena (Glória Pires), uma professora de música e maestrina de um coral infantil, cansada da rotina e da falta de sensibilidade do marido. Após uma briga monumental, um alinhamento de planetas (uma solução convenientemente cômica) faz com que eles acordem um no corpo do outro. E é aí que a mágica acontece.
O grande trunfo do filme é, sem dúvida, a atuação de seus protagonistas. Tony Ramos e Glória Pires, dois gigantes da nossa teledramaturgia, mostram uma química impecável e uma entrega total aos papéis. É hilário e, ao mesmo tempo, encantador ver Tony Ramos incorporando os trejeitos, a delicadeza e as crises de Helena, enquanto Glória Pires assume a postura ríspida, o andar desengonçado e a falta de paciência de Cláudio. Eu confesso que nesse primeiro filme (até aqui foram duas entregas), tive a impressão que Tony Ramos, mesmo sendo um excelente ator, não se sentia muito à vontade quando tinha que interpretar Helena, já Glória Pires me pareceu bem mais à vontade para viver na pele do Cláudio. A comédia física e os diálogos rápidos funcionam perfeitamente graças ao talento da dupla, que consegue evitar a caricatura excessiva e nos fazer acreditar naquela situação absurda. Vale comentar que em 2018, o filme ganhou uma versão mexicana, que não teve o mesmo sucesso que a original e confesso é um pouquinho exagerada dramaticamente falando.
Daniel Filho, com sua vasta experiência na televisão, imprime um ritmo ágil à narrativa, muito semelhante ao das novelas e séries. Isso, que foi apontado por alguns críticos na época como um demérito, na verdade se revelou uma ponte para o grande público, que se sentiu imediatamente familiarizado com a linguagem do filme. A direção de arte e a fotografia criam um Rio de Janeiro ensolarado e de classe média alta, que serve como pano de fundo perfeito para as confusões do casal.
Claro que o filme não é isento de falhas. O roteiro, assinado por Adriana Falcão, Daniel Filho, Renê Belmonte e Carlos Gregório, por vezes recorre a soluções fáceis e a piadas um tanto datadas sobre a guerra dos sexos. O elenco de apoio, apesar de contar com nomes de peso como Danielle Winits, Thiago Lacerda e Ary Fontoura, é pouco explorado, servindo mais como uma escada para as performances de Ramos e Pires. Além disso, a trilha sonora foge desesperadamente de usar músicas conhecidas, a banda Blink 182 é mencionada em um momento em que se diz que a filha do casal a ouvia, mas se você vir a cena, a música que se escuta nos fones de ouvido não tem nada a ver com o ritmo da banda que teve seu auge no início deste século.
Ainda assim, “Se Eu Fosse Você” cumpre com louvor o seu principal objetivo: entreter. Mais do que isso, ele nos convida a uma reflexão, ainda que superficial, sobre empatia e a importância de se colocar no lugar do outro. Ao vivenciar a rotina um do outro, Cláudio e Helena são forçados a enxergar as dificuldades, as pressões e os sonhos que antes ignoravam. É uma lição simples, embalada em muito bom humor.
O sucesso estrondoso de público, que o tornou o filme brasileiro de maior bilheteria de 2006, e a sua bem-sucedida sequência, lançada três anos depois, atestam a conexão que a história criou com os espectadores. “Se Eu Fosse Você” é um exemplo claro de como uma comédia popular pode ser bem-feita, divertida e, por que não, um pouquinho tocante.
Ficha Técnica:
- Título Original: Se Eu Fosse Você
- Ano de Lançamento: 2006
- Direção: Daniel Filho
- Roteiro: Adriana Falcão, Daniel Filho, Renê Belmonte e Carlos Gregório
- Elenco Principal: Tony Ramos, Glória Pires, Thiago Lacerda, Danielle Winits, Glória Menezes, Lara Rodrigues, Ary Fontoura.
- Gênero: Comédia, Romance
- Nacionalidade: Brasil
- Produção: Total Entertainment, Globo Filmes, Lereby Produções
- Distribuição: Fox Film do Brasil
- Duração: 104 minutos
Nota do Crítico:
4/5 estrelas – Uma comédia deliciosa e despretensiosa, que se apoia no talento gigantesco de sua dupla de protagonistas para entregar uma das experiências mais divertidas do cinema popular brasileiro. Um clássico da “Sessão da Tarde” que vale a pena ser revisitado!