Imagine uma sociedade em que algoritmos possam “prever crimes”, ou seja, alertar as autoridades antes de um crime acontecer.
Assim, o que antes parecia mais um roteiro de filmes como Minori Report ou do anime Psycho-Pass, já não é apenas ficção científica.
No Reino Unido, o Ministério da Justiça está desenvolvendo o projeto de uma IA capaz de analisar dados de milhares de pessoas para identificar futuros criminosos.
Isso lembra o que Spielberg propôs no seu filme Minori Report: um algoritmo para prever crimes, determinando quais pessoas têm maior probabilidade de se tornarem assassinas.
Desde prisões até registros de liberdade condicional, o algoritmo supostamente será capaz de avaliar quem apresenta maior risco de cometer um homicídio.
Batizado inicialmente como “Projeto de Previsão de Homicídios”, atualmente, é conhecido como “Compartilhamento de dados para melhorar a avaliação de risco”.
Como funciona o projeto para “prever crimes”?
O sistema utiliza dados pessoais provenientes de fontes oficiais, como o serviço prisional, liberdade condicional e registros policiais (como da Polícia da Grande Manchester), contendo informações sobre antigos condenados.
Dessa forma, a Inteligência Artificial analisa uma ampla gama de dados sensíveis, incluindo saúde mental, dependência química, automutilação, deficiência, além de demográficos como etnia, gênero e histórico criminal.
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Fase de pesquisa e sigilo
Embora o projeto esteja em fase experimental, a previsão é que seja divulgado um relatório público, ao fim dos testes.
O Ministério da Justiça garante que a coleta de dados se restringe a pessoas com condenações anteriores, negando o uso de informações de vítimas ou pessoas não condenadas.
Contudo, a existência do projeto foi descoberta “de forma controversa” pelo grupo Statewatch, e parte do funcionamento foi revelado por meio de documentos obtidos de solicitações de Liberdade de Informação.
“Foi a ONG Statewatch que expôs os planos do Ministério da Justiça britânico. A medida foi inicialmente promovida pelo ex-primeiro-ministro Rishi Sunak sob o nome de Projeto de Previsão de Homicídios . Posteriormente, foi modificada e renomeada para Compartilhamento de Dados para Melhorar a Prevenção de Riscos”, explicou Lucas Font, correspondente da Cadena SER em Londres, ao jornal La Ventana.
A Statewatch alerta os riscos de que os dados sejam usados para fazer previsões que prejudiquem cidadãos de minorias étnicas e de contextos socioeconômicos menos favorecidos.
Apesar das críticas, o Ministério da Justiça britânico tenta acalmar o público e chegou a declarar ao The Guardian que o projeto vai “analisar características que aumentam o risco de cometer homicídio” e “explorar técnicas alternativas e inovadoras de ciência de dados”.
“Este programa está a ser levado a cabo apenas por propósitos de investigação. Foi desenhado usando dados já existentes das forças policiais sobre criminosos condenados para nos ajudar a entender melhor os ricos de violência grave”, assegura o ministério.
Prever Crimes: “Arrepiante e distópico”
O Ministério da Justiça espera, sabe-se lá como, que o projeto ajude a reforçar a segurança pública,
No entanto, para os investigadores da Statewatch, que chamam a atenção para a falibilidade destes sistemas de “previsão”, o projeto é “arrepiante” e “distópico”.
Esse tipo de “policiamento preditivo”, embora atual, ecoa o precrime fantasiado pelo filme Minority Report.
Vale lembrar que no passado, o Reino Unido já tentou sistemas semelhantes,como o MSV (Most Serious Violence), por exemplo, mas abortou a iniciativa após constatar margens de erro inaceitáveis e potenciais vieses discriminatórios.
Assim, conforme o país avança nesse território nebuloso entre segurança e controle, fica um dilema no ar: até que ponto a tecnologia pode e deve interferir no destino individual?
O Reino Unido segue testando essa fronteira, mas é no cuidado com os direitos fundamentais que se decidirá o futuro de uma realidade que ganha contornos cada vez mais próximos da ficção e do nosso presente.